Fidel Castro e a homossexualidade em Cuba

Fidel Castro e a homossexualidade Fidel Castro e a homossexualidade em Cuba

As luzes e sombras da repressão à homossexualidade na Cuba revolucionária

EDITORIAL GAYLES.TV.-  Pouco importa se um regime é totalitário ou democrático, republicano ou monárquico, se sai das urnas, de uma revolta revolucionária ou de um golpe de estado, todos, absolutamente todos têm claro-escuro e especialmente no que diz respeito à questão do tratamento da homossexualidade. É por isso que agora, que as cinzas do Fidel Castro descansar no cemitério de Santiago de Cuba após 9 dias de luto e homenagem ao líder revolucionário, talvez seja hora de tentar recapitular a situação da homossexualidade no regime de Castro.

Quando o chamado “barbudo” Fidel e seu irmão Raúl Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Huber Matos e Juan Almeida entre outros, tomam o poder em Cuba, provocando a queda do ditador Fulgencio Batista, encontram uma situação social e económica que faz com que alguns historiadores descrevam a Cuba pré-revolucionária como “o bordel dos EUA”. Casinos, armas, drogas e prostituição, de todos os tipos, incluindo muitos jovens cubanos que, independentemente da sua orientação, oferecem favores sexuais em troca de alguns dólares. Neste contexto, Castro considera os homossexuais um fardo, mais um dos vícios herdados da Cuba de Batista, senão como agentes do imperialismo. Na paranóia do surto revolucionário, os bares gays e as áreas de encontro para homossexuais passam a ser considerados centros de actividades anti-revolucionárias que devem ser erradicadas. O próprio Fidel declarou em 1965: “Não podemos acreditar que um homossexual possa reunir as condições e os requisitos comportamentais que nos permitiriam considerá-lo um verdadeiro revolucionário, um verdadeiro militante comunista..” Essas palavras abriram a porta para o que seria uma perseguição brutal de homossexuais e transexuais por parte do governo cubano durante décadas.

Presos em uma UMAP

O expoente máximo desta repressão são os campos de trabalhos forçados que foram instalados na província de Camaguey. O seu objectivo era isolar e controlar elementos susceptíveis de qualquer tipo de dissidência com o regime castrista, intelectuais, hippies, membros de seitas religiosas e, claro, um grande número de homossexuais. Era sobre as ligações Unidades de Assistência à Produção Militar (UMAP), criado em princípio para reformar aqueles que se recusaram a prestar o serviço militar ou que, por motivos diversos, foram rejeitados no Forças Armadas Revolucionárias de Cuba. Oficialmente recebiam um salário de 7 pesos e tinham alguns domingos de folga. O documentário “Conduta imprópria” de Néstor Almendros e Orlando Jiménez Leal nos mostra outra realidade. A verdade é que a filosofia estava longe de ser reformista, mas sim de controlar e reprimir qualquer tipo de dissidência. Depois de receber falsas convocações para exames médicos, os selecionados foram encaminhados aos diversos campos de Camagüey, onde receberam tudo, exceto treinamento militar. Segundo o historiador José Tahbaz, os detidos ali passavam longos dias ao sol trabalhando basicamente na cana-de-açúcar, depois vieram as palestras de “conscientização” e no caso dos homossexuais as “curas” e tentativas de erradicar seu comportamento sexual. Segundo a história do dramaturgo homossexual Héctor Santiago que estagiou em um centro da UMAP, “Às vezes eles te deixavam sem água e comida por três dias enquanto te mostravam fotos de homens nus e depois te davam comida e te mostravam fotos de mulheres.” O próprio Santiago nos fala sobre choques elétricos e outros “tratamentos”. O resultado foi 500 internos internados em centros psiquiátricos, 70 baleados ou mortos devido a tortura e mais de 180 suicídios. Os números falam por si.

LGTB Cuba

É claro que a situação na ilha evoluiu ao longo do tempo. Em 2010, o próprio Fidel Castro declarou em entrevista a Lajourna em relação à questão homossexual: “Se tivermos que assumir responsabilidades, eu assumo a minha. Não vou culpar os outros (…). Foram momentos de grande injustiça, uma grande injustiça! Quem fez isso. Se fizemos isso, nós.” Estas palavras puseram fim a uma perseguição de 5 décadas e marcaram o início de uma abertura que, embora não tenha alcançado a aprovação de uniões legais entre pessoas do mesmo sexo, proibiu a discriminação com base na orientação sexual em 2013. Uma situação jurídica paradoxal sobre questões que afetam as pessoas LGTBI. Para citar um exemplo, desde 2008, as pessoas transexuais têm acesso gratuito à cirurgia de redesignação sexual, mas continuam a ver-lhes negado o acesso ao ensino superior e têm problemas gravíssimos na obtenção de emprego, o que significa que sobrevivem muitas vezes à margem da sociedade recorrendo à prostituição.

Haveria muito mais a dizer sobre o peculiar processo dos direitos homossexuais na ilha caribenha, sobre figuras como o ativista, sexólogo e congressista Mariela Castro, filha de Raúl e sobrinha de Fidel que desde CENESEX (Centro Nacional de Educação Sexual), tornou-se um porta-estandarte dos direitos LGTBI em Cuba. E claro, sobre o papel fundamental que o cinema cubano tem desempenhado nesta luta, algo que merece ser abordado num outro artigo.

Não se trata de condenar a revolução cubana, longe disso, as suas conquistas em áreas como a educação ou a saúde foram notáveis, mas como salientámos no início, todos os governos têm claro-escuros sobre esta e outras questões e a Cuba de Fidel não era ainda melhor Nem pior nesse aspecto do que a Espanha de Franco ou a Itália de Mussolini.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=hCUP4Ai1CaQ]

Fontes: Magnet.Xataca.com, Publico.es, La Jornada

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