Lésbicas sob Franco

Lésbicas sob Franco

EDITORIAL.- Muitos tratados, estudos e artigos foram escritos sobre a situação dos homossexuais na Espanha durante o período franquista. Recentemente a revista digital "Anotar" publicou uma excelente série de textos sobre a forma como o regime ditatorial de Franco utilizou a moralidade e a sexualidade como arma de submissão e doutrinação.

Um deles trata da situação vivida por gays, lésbicas e transexuais naquele período, mas apenas alguns parágrafos tratam do lesbianismo porque os ideólogos do regime simplesmente decidiram que ele não existia. Como aponta Empar Pineda, “o sexo entre mulheres não era perseguido porque para o regime não poderia existir”.
lésbicas e franquismo Gayles.tv

As mulheres em geral tinham que ser assexuadas e tanto a norma que endossava as relações dentro do casamento para fins reprodutivos como a sua transgressão (todas as outras eram prostitutas), foram enquadradas num conceito heterossexual. Até a homossexualidade masculina, porque os gays foram assimilados às mulheres e como tal tratados com desdém. O prazer era negado às mulheres e devia desagradar até aos próprios maridos porque era um indício de um vício indesejável. A este respeito, um ilustre reitor da Universidade Complutense de Madrid, Botella Llusiá, tio de Ana Botella Aliás, ele afirma que “as mulheres que gostam não são mulheres, mas molecas e até mesmo a excitação da libido nas mulheres é de caráter masculino.”

Naquele contexto, tratava-se de não reconhecer lésbicas, de não falar sobre elas, de não considerar possível a existência de uma sexualidade fora do controle masculino. Foram deixados de fora do modelo e isso significou que na maioria dos casos escaparam à repressão; apenas os mais rebeldes acabaram em centros de detenção dependentes de Pilar Primo de Rivera, cuja preferência pelas mulheres sempre foi suspeitada. Naqueles campos de concentração administrados por freiras, os presos eram barbeados e era administrado óleo de rícino para limpar o corpo e a alma. Posteriormente, omulheres raspadas Gayles.tvà “refeminização” baseada em tarefas consideradas femininas e na oração.

Nas zonas rurais, muitas lésbicas procuravam o convento como alternativa ao casamento, embora a maioria evitasse a Igreja como instituição e se mascarassem nas sociedades urbanas que eram geralmente mais tolerantes com a coexistência entre mulheres. Criam suas redes de amigos, organizam festas que eram bem vistas pelos vizinhos porque não compareciam meninos, geram uma gíria de reconhecimento (entre elas se autodenominavam “livrarias” para se identificarem), organizam excursões e passeios, mas viver subjugado pela dissimulação e pela negação. Trata-se de não se exibir, de nunca reconhecer os seus sentimentos em público sob pena de aceitar multas elevadas ou do temido ingresso em Instituições para serem reabilitadas. Ainda é curioso que nas penitenciárias espanholas o uso de calças fosse proibido às presidiárias até o final dos anos 60, por medo de que essa vestimenta incentivasse o lesbianismo.

A situação das lésbicas sob Franco é muitas vezes banalizada, dizendo que foi fácil para elas, que nem sequer foram afectadas pela “Lei dos Vagabundos e Criminosos” ou pela “Lei da Perigo Social”, que não foram vítimas dos tratamentos aberrantes. e terapias aversivas com eletrochoques, vômitos, hormonais ou lobotomias. Em primeiro lugar, este não foi o caso em todos os casos e, em segundo lugar, aos maus-tratos sofridos por qualquer mulher sob o regime, as lésbicas acrescentaram a queixa de não existirem, de serem negadas na sua essência mais básica, de serem cobertas por um manto escuro de silêncio que em nenhum caso se tratava de esquecimento ou tolerância, mas sim de um plano estruturado que tinha como objetivo último a negação da sexualidade feminina. E isso durante décadas durante um longo período de tempo que se estenderia até a transição.

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